Olhe para trás. Como foi este ano? Cheio ou vazio? Faça uma retrospectiva da sua vida, especialmente nestes últimos 12 meses. Foi um ano cheio de vitórias ou de frustrações? Como está o seu coração? Ele está cheio coisas ou de pessoas? Cheio de disputas ou de reconciliações? Está vazio de ressentimentos ou de esperança?
Um mundo cheio de si
Vivemos num mundo cheio de si. Um mundo de Narciso. Aquele ser mitológico que ao ver sua imagem refletida na água ficou tão deslumbrado que se afogou numa paixão desenfreada por ele próprio. A idolatria de si mesmo está alastrada em nossa sociedade e afogando muitos em si mesmos. Redes sociais se parecem cada vez mais com um outdoor promocional do “Eu” de cada um. Até tivemos o acréscimo do termo selfie aos nossos dicionários, o que revela o peso do quanto focalizamos em nós mesmos.
Este problema é antigo. Acompanha-nos desde a maternidade. Enquanto bebês somos o centro do Universo. Crescer, portanto, é descobrir lentamente que o outro existe, e que ele não vive apenas para satisfazer minhas vontades. E é aí que reside o nosso maior desafio: aprender a deixar de ser o centro do mundo. Contudo, a busca de significado tem sido uma frustração para muitos porque o ser humano tem buscado a solução dentro de si, enquanto que a verdadeira resposta está fora dele. Ao invés de afastar-se do problema, ele mergulha ainda mais fundo.
Um mundo vazio dos outros
Estamos perdendo a capacidade e sensibilidade de olhar para o lado. Assim, o tempo, precioso elemento da vida, é gasto em longas horas de trabalho, trocado por dinheiro, para se contrair mais dívidas, comprando inutilidades. Estamos cheios de coisas e vazios de relacionamentos. Cheios de status, prestigio profissional e troféus acadêmicos, mas vazios de paz, de noites tranquilas de sono, de famílias equilibradas, de risadas espontâneas sem a necessidade de entorpecentes. E assim, cheios de nós e vazios dos outros, ao cultuar nossas realizações ficamos enfadados “porque não somos capazes de nos elevar acima de nós próprios”. (Amin Rodor, Encontros com Deus).
O materialismo coloca uma etiqueta errada de preço nas coisas, além de tentar etiquetar também nossas amizades, família, sonhos e até o próprio Deus. Começamos a achar pouco lucrativo investir nos outros. Os pronomes “eu” e “meu” estão, cada vez mais, ampliando seu domínio sobre cada pessoa, tirando dela o outro que traz sentido à vida. Não é por acaso que a clássica obra do filósofo francês Lipovetsky, que retrata nossa época, seja intitulada: “A Era do Vazio: um ensaio sobre o individualismo contemporâneo”.
Esta é a consequência imediata do egocentrismo: “quem está muito preocupado consigo não pode ver os outros nem suas necessidades”. Por não conhecermos as pessoas, estarmos distantes, as interações se tornam marcadas por desconfiança e suspeita. Não apenas os vemos como estranhos, mas por vezes até como inimigos, concorrentes. Porque queremos ser os primeiros, competimos com todos em tudo. Isto está estampado nas camisas de times de futebol, de turmas de formandos, de partidos políticos, etc. Desde pequenos, nós corremos com nosso “irmãozinho” para o parque ansiosos para gritar: “Cheguei primeiro, ganhei!”. Parece que não estamos felizes se não deixarmos alguém pra trás. Porque não tratamos os outros como gostaríamos que fôssemos tratados? Mesmo no relacionamento com pessoas próximas é comum tentar substituir a ausência por presentes. É como se disséssemos: “As coisas expressam nosso amor melhor do que a nossa mera presença.” (Amin Rodor, Encontros com Deus).
Qual é a comida preferida do seu pai? O que traz mais alegria para o seu cônjuge? Com que tem sonhado a sua filha? Você permitiu que seus amigos mais chegados soubessem das batalhas que você enfrentou este ano? Alguém sabe o que está doendo aí dentro?
Enfim, estamos correndo atrás do que? Estamos brigando pelo que? Será que está valendo a pena?
Mas afinal de contas, será que o bebê natalino pode mesmo dar um jeito neste nosso antropocentrismo? Quem é Jesus Cristo? Leia este texto das Escrituras:
Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros. Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz! (Filipenses 2:3-8)
Jesus é cheio da divindade
A bíblia afirma que em Jesus reside toda a plenitude de Deus (Colossenses 2:9). A expressão quer dizer literalmente que Ele é a manifestação visível da natureza divina. Jesus é cheio de Deus. Olhamos pra Cristo e vemos a Deus. Esta condição é real, inamovível e eterna. Em contraste com a condição do nosso mundo e suas ilusões, todas voláteis, virtuais, mutáveis e efêmeras.
Jesus se esvaziou de si mesmo
Contudo, Jesus não lidou com sua divindade com obsessivo apego. Não olhava pra ela como um objeto de caça, uma presa a ser apanhada e devorada. Quando estamos inseguros sobre uma posição ou uma posse, nos agarramos com unhas e dentes àquilo que tememos perder. Mas Jesus é diferente. Ele é tão seguro de Si, tão livre, tão soberano, que foi capaz de esvaziar-se de Si mesmo. Jesus não lida com o poder como geralmente lidamos. Jesus nunca recorreu aquela famosa fórmula da insegurança humana: “você sabe com quem está falando?”. Para Ele poder não era para ser usado.
Do que exatamente Jesus se esvaziou? Não da sua divindade, mas do uso dela. Ele abriu mão da Sua glória, Sua coroa, Seu trono, das cortes celestiais, do Seu alto comando, do Seu lar celestial. Porém, quanto à Sua divindade Ele apenas a anestesiou. Ela esteve ali resguardada, privada de força, inutilizada.
Segundo o teólogo Amin Rodor, “para Jesus era tão difícil permanecer em nosso nível como para nós é difícil elevar-nos acima de nossa realidade degenerada”. Mas Ele escolheu livremente se esvaziar. O Criador decidiu ser amamentado, conduzido e carregado pela criatura. Como disse o escritor e pastor Max Lucado: “Ele podia segurar o universo na palma da mão, mas abdicou disso para flutuar no ventre de uma virgem.”.
Jesus se encheu da humanidade na forma de servo
Todavia Ele não apenas se esvaziou; Jesus também se encheu da nossa humanidade. Nasceu sob o cheiro do curral, desenvolveu-se como uma criança comum, aprendeu a trabalhar a madeira e sentiu a ponta das farpas na mão. Caminhou, teve fome, sede, angústia, alegria e dor. Viajou, celebrou, pregou e chorou numa terra com uma área não muito diferente da de Alagoas. Quando teve sono, dependeu da boa vontade de pessoas hospitaleiras. Montou um jumento e sangrou numa cruz entre dois ladrões. Soube o que significa ser julgado injustamente. Foi sepultado num túmulo emprestado. Realmente um mausoléu ornamentado não faria qualquer sentido para quem não pretendia ficar na tumba por muito tempo. Você consegue se identificar com Ele? Bem, Ele se identificou com você.
Nas palavras da escritora norte-americana Ellen White, “Cristo vestiu Sua divindade com a humanidade”. Mas tinha que ser tão penoso? Por que ao invés de nascer num estábulo, Ele não veio como um filho do imperador romano num palácio, por exemplo? Bom, para quem é Senhor do Universo, continuaria sendo tão humilhante quanto.
Ele se fez escravo, para que nada mais nos escravize. Ele nasceu de modo sobrenatural neste mundo para que um novo nascimento também ocorra com cada um de nós; e em cada um de nós. Ele também saiu de modo sobrenatural deste mundo, para que nós pudéssemos sonhar e ter certeza de um destino semelhante.
E por Ele ter se esvaziado e se enchido com a nossa humanidade, nós agora podemos nos esvaziar de nós mesmos e sermos cheios dEle. Ele participou de nossa natureza, para que nós possamos participar da gloriosa natureza divina.
Concluindo…
Sendo assim, será que vale mesmo a pena ser cheio de si e vazio dos outros? E vazio dEle?
Saber verdadeiramente quem sou e qual é o propósito da minha vida não seria o caminho da liberdade para olhar para os outros como Cristo olha pra mim?
Então, onde é Natal? É onde há espaço para a vida de Cristo nascer.Portanto, vamos esvaziar nossos corações de tudo aquilo que está ocupando o lugar do mais importante e deixar que o Natal aconteça aqui dentro. Vamos abrir nossa vida para que Cristo nasça e faça morada em nós; não só neste Natal, mas todos os dias da nossa vida até o dia do retorno glorioso do nosso Servo Rei, bebê-Deus, Jesus Cristo. Para tanto, você precisa abrir o presente que Ele te enviou: a Bíblia. Você vai encontrá-Lo aqui. Não na opinião dos outros, nem nas mídias e nem na vida de muitos pretensos seguidores dEle. Você precisa visitá-Lo na Bíblia. Sinta-se sempre em casa.
Ps.: Texto adaptado da mensagem "Onde é Natal?" apresentada na Cantata de Natal | ENOTE BH – Dez.2014